Texto ESCSito
- Inês
- 12 de nov. de 2018
- 4 min de leitura

Corria o dia 8 de setembro do 18º ano do milénio, quando o meu telemóvel se iluminou com a notificação da Direção Geral do Ensino Superior, os mesmos tipos ilustres que mantêm milhares de alunos em estado de ansiedade Verão, após Verão. O sistema de candidaturas até pode ser informático e muito provavelmente eles sabem os resultados dois séculos e meio antes dos comuns mortais, mas ninguém leva a mal. Além de ser tradição, toda a gente adora ter de organizar a vida em duas semanas, ainda por cima o mercado imobiliário em Lisboa está um espetáculo e as filas para tratar do passe são conhecidas pela sua eficiência. Crises existenciais e quotidianas à parte, a verdade é que eu entrei na minha primeira opção, e o momento em que li o e-mail com a notícia foi no mínimo digno de uma produção cinematográfica de baixo orçamento com muitos clichês. Era o Sérgio Godinho a dizer que aquele era o primeiro dia do resto da minha vida, os meus pais a recuperar do susto que lhes preguei ao ter dito que tinha ficado na 4ª opção, e eu a sentir-me a rainha do mundo por ter entrado com apenas duas décimas acima da média, beijinho no ombro da Inês de há dois meses atrás. Isto tudo para dizer que agora sou oficialmente uma aluna da ESCS, escsiana para os fixes, ou seja, posso desistir do ginásio que nunca frequentei porque aquilo tem muitos pisos para poucos elevadores funcionais. Estou a adorar tanto que até tolero a árdua jornada que é subir as escadas do inferno todos os dias, acho que o nome, e os ataques de asma iminentes com que uma pessoa fica logo pela manhã, dizem tudo. Mas começando pelo início, a praxe. Se estão à espera de frases salpicadas de ovos e palavras com restos de farinha, vão procurar uma blogger de outra faculdade, tenho a certeza de que há muito boa gente ansiosa por recordar as mistelas indefinidas e as longas horas a olhar para o chão. Não posso revelar muito do que aconteceu, não só porque correria o risco de estragar a surpresa aos caloiros do próximo ano, mas também porque as saudades já são muitas, e não dá jeito nenhum escrever em modo nostálgico choramingas. Quero, no entanto, partilhar a forma inesquecível como a praxe da ESCS me marcou, e não estou a falar de nódoas negras provocadas por inapropriadas flexões. Estou a falar dos sorrisos, das pessoas criativas e incansáveis que nos tentaram efetivamente integrar, desses trajados maravilhosos que não gritaram connosco só para cumprir uma hierarquia qualquer, que não nos trataram como vermes, bichos ou bestas (as designações elegantes variam entre as mais prestigiadas universidades), mas sim como amigos. Ao ouvir relatos de alunos de outras faculdades, não tenho dúvidas de que a minha é efetivamente especial, não conheci pessoas no chão, a rir-me dos outros ou a deixar que se rissem de mim, nós rimos todos juntos, é essa a diferença entre integração e humilhação. Durante uma semana voltei para casa cansada, mas feliz, conheci pessoas incríveis e criei memórias que me aquecem o coração. A única vez em que quase chorei, não foi de medo, ansiedade ou exaustão, foi de felicidade, ao ser toda pintada por crianças, que tal como eu naquele momento, não sabiam falar, mas não precisei de palavras porque a minha boca estava demasiado ocupada a sorrir. Sinto-me genuinamente orgulhosa por fazer parte desta família, por poder gritar e cantar por uma equipa onde em tão pouco tempo desconhecidos passaram a amigos. É muito mais do que cerveja e bebedeiras irrefletidas, é união e diversão ilimitadas, é fugir da rotina e estar com um grupo com uma energia contagiante e dedicação inabalável. Posto isto, resta-me falar das aulas, as que me fazem pensar, as cativantes e a outras. Nas aulas de gestão aprendi que “a vida só é dura para quem é mole”, sendo esta uma pequena amostra do talento nato do meu professor para arranjar descrições para o Instagram. Além disso, descobri que publicidade é uma questão de perspectiva, por exemplo, alimento para vitelo quase azedo poderia ser um anúncio de um iogurte, basta pensar em leite e no milagre biológico da fermentação. E isto é tudo muito bonito, mas cá estamos, dois meses e muitos trabalhos depois, resta-me acrescentar que estou na rádio da escola, podem ouvir se estiverem interessados nos meus devaneios. Os níveis de drama e estupidez são mais ou menos os mesmos que por aqui, com a vantagem de poderem ouvir a minha bela voz, com sorte e alguma chuva, fanhosa e acabada. Termino a minha retrospetiva tardia, com um dilema de vida, que isto não pode ser só amiguinhos e coisas boas. Acontece que escolher padrinhos de praxe não é uma tarefa fácil e por isso venho por este meio pedir auxílio aos leitores. Enviem dicas, histórias inspiradoras, manuais de instruções, se forem trajados da ESCS até podem enviar currículos, mas por favor ajudem esta caloira ligeiramente desesperada. Entretanto sejam felizes e comam verduras, aguardo ansiosamente pelo vosso auxílio, literalmente ansiosa.
Sra Marketeer e isso dá radio como é que se pode ouvir?