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Lisboa - Estocolmo

  • Foto do escritor: Inês
    Inês
  • 2 de set. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de out. de 2022


Hoje escrevo-vos das nuvens, numa pausa entre leituras tardias a bordo de um voo noturno a caminho de Estocolmo. Ainda há pouco corria pelo aeroporto com bagagem e taquicardia às costas. Andar de avião já não me deixa nervosa. O que me acelerou o coração não foi o ato de deliberada loucura que é entrar num tubo metálico voador, foram mesmo as palavras "a embarcar" que li quando ainda não tinha passado a segurança. Felizmente, não foi hoje que o altifalante disse o meu nome, naquela voz tenebrosa de última chamada. Se estão a ler isto é porque já estou na bonita nação de uma das minhas lojas preferidas. Espero que as ruas de Estocolmo me entusiasmem tanto como a secção de estantes da IKEA no momento de comprar uma KALLAX nova.


Por enquanto, limito-me aos passatempos possíveis: refletir sobre o ciclo da água enquanto a observo no seu estado gasoso, ouvir as conversas da fila de trás e mastigar pastilha elástica. Também podia ter visto o pôr do sol, mas o sujeto ao meu lado, que por acaso parece o Thor, fechou a persiana porque a claridade lhe estava a fazer dói-dói. Eu percebo, também acho banal ver o sol a naufragar lentamente sob um mar de nuvens vermelhas, laranjas e roxas.

Atrás de mim está uma portuguesa que vivia na Suécia e agora estuda medicina. Conversa com o homem que vai ao casamento do filho com uma parisiense. Um português e uma francesa que decidiram casar em Estocolmo. O pai do noivo e a futura doutora descobrem que voltarão para Lisboa no mesmo voo. Ela conversa agora com o outro passageiro, o que está à janela. Trocam palavras suecas, ríspidas e desconhecidas. Riem um pouco. É improvável, mas se calhar também ele regressa a Portugal daqui a 3 dias. O diálogo transforma-se rapidamente num estranho emaranhado trilingue entre 13A, 13B e 13C. Falam da nova casa do Ronaldo. E depois, my son is marrying a French girl. In Sweden? Discutem vinho. O português tem a mala de porão cheia de garrafas. Para o casamento do filho. O sueco elogia a pronúncia do português e queixa-se do sotaque no Alentejo. No lugar 14B está um Alentejano. Que vive na Estónia. O 13C falha-lhe do casório. Não, não, a noiva é francesa. A este ponto, sinto que já faltou mais para se juntarem todos e escolherem um presente de casamento improvisado no catálogo de bordo.


E para mim, esta é exatamente a beleza de viajar sozinha, o lugar ao meu lado está vazio e por isso tenho mais tempo para ouvir as histórias que se sentam por perto. Tenho os ouvidos abertos, Suécia. E um bocadinho entupidos também, que isto de andar de avião constipada não tem o selo de aprovação da ordem dos otorrinos. De qualquer forma, hallå Stockholm.


P. S. Aeroportos à noite são bizarros.

 
 
 

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