Menino da lágrima
- Inês
- 25 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

Cheguei à conclusão que rir é mesmo o melhor remédio, não só porque faz bem à saúde mas também porque é definitivamente melhor que chorar. Pensemos nisto objetivamente, estar triste pode conduzir à desidratação e ao aumento do número de crises existenciais. E depois ainda há o problema da maquilhagem esborratada, assim ao estilo desprevenida no temporal, já para não falar dos olhos inchados, qual versão ranhosa e sem classe do menino da lágrima. É verdade que há fases da nossa vida que parecem inspiradas numa tragédia clássica qualquer, mas também é um facto que o ser humano em geral, e eu particular, tem uma certa tendência para por a mão na testa e lamentar a sua miserável e agoniante existência, não é preciso muito para transformar azares quotidianos no fim do mundo que se avizinha. Ninguém faz isto de propósito, tenho a certeza que o Hamlet até era bom rapaz e que o Neymar não gosta propriamente de se atirar para o chão, somos mesmo assim, preferimos ver o copo meio vazio quando há potencial para o vermos a transbordar, é tudo uma questão de perspetiva. Amanhã, em vez de nos queixarmos do que nos falta podemos agradecer o que já conseguimos ter. Os violinos estão nas nossas cabeças e o Calimero podia era voltar para o ovo que assim já não chateava ninguém. Quanto a mim, vou continuar a saltar à corda com a linha que separa o drama da comédia, porque a vida é miseravelmente engraçada. Há umas semanas atrás passei por dias difíceis, ou hilariantes se preferirem ser otimistas. Pensei que estava alguém em minha casa e por uns minutos tive a certeza de que ia morrer, já via a cena toda, o sangue, a polícia e os arrependimentos das glórias não vividas. Eu sei que os homicídios não costumam acontecer em terriolas alentejanas, mas a veia teatral e a imaginação fértil falaram mais alto que o bom senso e o discernimento para perceber que o impiedoso assassino era na verdade um martelo a fazer obras no telhado da casa ao lado. Não satisfeito, o universo decidiu que eu ia testemunhar um atropelamento e para terminar com chave de ouro nesse dia eu e o meu namorado acabámos. Na altura fiquei ligeiramente traumatizada, nada de grave, umas noites sem dormir, umas quantas horas a chorar, tudo normal e perfeitamente adorável, recomendo a experiência, eu própria se pudesse voltava a repetir. Pode até ter sido difícil, mas a verdade é que no final do dia posso dizer que sou feliz, tenho saúde, amor, sonhos e uma caminha moderadamente confortável, o resto é como o Bruno de Carvalho, vai e vem. Que se lixem os mosquitos que me deixaram 30 picadas nas pernas, que se dane o monopólio e as 3 vezes que fui para a prisão na mesma volta, esqueçam a sorte no jogo e no amor, é azar em tudo mesmo, sejamos miseráveis, e mesmo que nos partam os dentes todos, não deixemos de sorrir.
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