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Cicatriz interna do lado direito do joelho esquerdo

  • Foto do escritor: Inês
    Inês
  • 25 de set. de 2018
  • 2 min de leitura


A história que se segue é quase tão chocante para mim como para o leitor, trata-se de uma conclusão recente e inesperada, uma verdade difícil de aceitar e que, por muito que uma pessoa se prepare durante a vida, continua a ser no mínimo, o drama, a tragédia e o horror. Estava muito bem na minha vidinha, no cabeleireiro a tratar do 3º corte anual, porque monotonia capilar e estabilidade emocional não são muito o meu estilo, quando fiquei a saber das notícias, eis que descobri que tenho “luzes”, cabelos brancos para os leigos. E pronto, assim de repente uma pessoa percebe que está a ficar velha, ainda ontem tirei o aparelho e daqui a pouco já estou a pôr a dentadura. E tudo isto me levou a refletir sobre a minha existência, se pensarmos bem estou praticamente com os pés para a cova. Quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande eu respondia como se fosse uma fantasia hipotética qualquer, faltava sempre muito tempo, e de qualquer forma eu tinha preocupações mais importantes, esqueçam as contas para pagar, as tarefas domésticas e derivados, difícil mesmo era decidir ao que nos apetecia brincar.

Calçava sapatos de salto alto acreditando inocentemente que nunca me iriam realmente servir, as pessoas crescidas já tinham nascido assim, os meus pais tinham sido sempre adultos, não haviam dúvidas ou discussões, quem dissesse o contrário era mentiroso ou simplesmente estúpido. E agora cá estou eu, a assinar 4 contratos na mesma semana, a viver sozinha e a perceber aos poucos que mais vale ser aquele que faz todas as perguntas do que a pessoa a quem exigem a maioria das respostas. Quando penso que agora posso votar, beber e conduzir ainda fico admirada, sobretudo em relação à última parte, há uns meses atrás eu não sabia a espessura mínima exigida num pneu, e era feliz assim. Entretanto já quase atropelei um cão, um gato e um camaleão, mas ainda não desisti, rotundas à parte, conduzir até é divertido. E muitas lágrimas, desculpas e meses depois (gosto muito de vocês pais), estou quase a conseguir...arrancar com o carro, estou a brincar até já fiz o exame, chumbei, mas o que importa é tentar. De resto é não atropelar seres vivos, sobretudo humanos, e evitar, se não for muito incómodo, estar envolvido em desastres rodoviários, simples e eficaz. Tudo isto para dizer que tenho 18 anos e a certeza absoluta de que se me descuidar acordo toda curvada, com 3 artrites, um sorriso descartável e pelo menos 27 doenças terminais. É melhor marcar já o rastreio auditivo que daqui a uns tempos a minha surdez pode deixar de ser apenas seletiva, enfim, crescer, e respirar em geral, é complicado. O estado do tempo por exemplo, ninguém sabe bem como lidar, mas fica a dica para amanhã, recomendo vestir um casaquinho porque a minha cicatriz interna do lado direito do joelho esquerdo está para aqui a dizer que vai chover, claro que esta informação tem o maior rigor científico e precisão, ignorem a metrologia e o calor insuportável lá fora, as minhas ossadas é que têm razão!

 
 
 

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