Bolhas de sabão
- Inês
- 12 de set. de 2018
- 4 min de leitura

Adeus é a palavra mais longa de todas, não no sentido literal, por nos pesar no coração, por ter a capacidade de nos destruir, demolir com vazio e saudade. As pessoas não são para sempre, partem de uma maneira ou de outra, mas se foram importantes levam sempre uma parte de nós. E é por isso que doí, temos de reaprender a viver com esse pedaço a menos, é um roubo, mas infelizmente os sentimentos não têm seguro nem segurança. E ficam os arrependimentos, daquilo que ficou por dizer e do que se gostávamos de não ter dito. Sentimos a falta de cada abraço, de cada sorriso, de um passado que achávamos que ainda seria futuro. Tudo isto sem aviso e às vezes sem explicação, apenas porque a vida é complicada e as pessoas gostam de complicar. Perdemo-nos uns dos outros, enganados e atraiçoados, motivados pela raiva ou simplesmente pela ignorância. Mesmo aqueles que supostamente eram para sempre, os que já nos viram no pior e aplaudiram no melhor, até esses podem desaparecer, numa desilusão sem fim, numa mágoa que não acaba. Tentamos esquecer, preferindo fingir que não aconteceu do que aceitar que terminou, mas a realidade acaba sempre por nos apanhar. E depois choramos, porque não há mais nada que possamos fazer, a única cura possível não se vende na farmácia, chama-se tempo e custa paciência. Até que ultrapassamos, apesar de nunca esquecermos, e ainda bem, porque senão não aprendíamos nada, além de que a felicidade só se vê no fundo negro que é ter medo de perder alguém. Não podemos amar sem sofrer, são as lágrimas que nos ensinam a sorrir e os que partem que nos levam até aos que querem ficar. Alguns caem no erro de tentar apagar o passado, eu prefiro ter o passado pendurado nas paredes, não são as fotos que nos assombram, são os fantasmas dos que nelas estão, e esses só a nossa cabeça é que pode expulsar. Tudo isto para dizer que para sempre pode ser já amanhã, que a única certeza absoluta é o agora, por isso não deixem para depois. Cada dia pode ser cheio de imperfeições perfeitas, de palavras bonitas em ocasiões inesperadas, de desejos concretizados com ou sem estrelas cadentes. Devíamos deixar de planear a felicidade e ser felizes por acaso, como deve ser, estupidamente, inconscientemente, nas pequenas coisas e só porque sim, de preferência hoje.
Algumas pessoas nascem em bolhas de sabão, alguns adultos nunca deixam de brincar, alguns sonhos, mesmo que impossíveis, foram feitos para serem sonhados. Somos mesmo assim, uns mais que outros, as nossas cabeças não deixam de ser habitadas por princesas, bruxas e imaginação, o tempo, e a realidade, é que acabam por os calar. Há quem lhe chame crescer, eu acho que é apenas uma consequência inevitável de envelhecer. A maturidade não tem nada a ver com a criatividade, o problema é que ao perdermos a inocência perdemos também a visão do mundo pintado a lápis de cera. Sempre que nos magoam a nossa realidade torna-se um bocadinho mais cinzenta, fria, segura, aborrecida, porque as lágrimas nos lavam os olhos e secam o coração. No fundo, vamos perdendo o otimismo porque já caímos e agora sabemos o quão perigoso é voar. Temos medo, preferimos viver moderadamente felizes do que apostar com a felicidade. E restam-nos as memórias, essas migalhas do tempo que nos alimentam os sorrisos ao fazer recordar que o maior dos nossos problemas já foi uma conta de subtrair por resolver. Não deixa de ser triste, são as pessoas que fazem isto umas às outras, porque nesta história a capuchinho vermelho é da mesma espécie que o lobo mau, somos todos humanos, e é da inocência de uns que se alimenta a maldade de outros. Este ciclo sem fim faz da vida um cesto de maçãs envenenadas, até que chega o ponto em que a Branca de Neve, tantas vezes enganada, prefere nem as trincar. É aí que deixamos de acreditar, é aí que os nossos sonhos, outrora errantes, livres e selvagens, passam a usar cela e a crina cortada. Já nem pelo príncipe encantado nos dignamos a esperar, afinal ele também deve ter desistido ou pode nem sequer ter tentado. É mais fácil existir do que tentar efetivamente viver, ao menos não corremos o risco de nos estilhaçarem o coração. Eu achava que nunca seria assim, que por ser uma sonhadora e uma romântica incurável, estava vacinada contra esta epidemia detestável. Gosto de pensar que tinha razão, mas os últimos tempos, e as tragédias que abalam a minha existência, teimam em dizer-me o contrário. Sei que o guionista da vida não é definitivamente o mesmo que o dos filmes da Disney, mas não esqueço que mesmo os mais belos contos de fadas tem uma dose, e forte inspiração, de pura e cruel realidade. Deixei de acreditar cegamente nas pessoas porque percebi que muitas pessoas só acreditam em si próprias, há que saber filtrar, sempre com a consciência de que não há finais felizes, a felicidade vai aparecendo por aí, tal como a tristeza, as desilusões e a falsidade.
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