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Bicho das estevas

  • Foto do escritor: Inês
    Inês
  • 22 de ago. de 2018
  • 2 min de leitura

Atualizado: 23 de ago. de 2018


De todas as pessoas a quem já chamei estúpida, a minha irmã é sem dúvida a minha favorita. Reza a lenda, que ao início não gostei nada dela, afinal não passava de uma forasteira careca que tinha magoado a minha mãe, logicamente fiquei ultrajada com o tamanho atrevimento. O que eu ainda não sabia, é que aquela pessoa que mais parecia um rato, ou outro bicho qualquer, se iria tornar a minha melhor amiga, e tenho a certeza que é para a vida toda, não só porque a adoro, mas também porque nunca se sabe se vamos precisar de um rim. Algumas das minhas melhores memórias e piores nódoas negras foram causadas por ela, e fico orgulhosa ao pensar que provavelmente a minha irmã já me tentou morder mais vezes que o meu cão. Entre batalhas épicas e espetáculos improvisados, foi com ela que aprendi a sonhar, porque foi ao lado dela que cresci e ainda estou a crescer. Esteve sempre lá, nas quedas e tropeções, nas conquistas e nas vitórias, para me irritar ao ponto de lhe querer dar uma chapada e para me amar com todo o seu gigante coração. Posso até detestar quando me assalta o guarda roupa, ou impinge música de qualidade duvidosa, mas não a trocava por nada nem por ninguém. E vai custar, vai custar sair de casa e deixar de viver com ela, não a ver todos os dias e não estar lá para dar uma sova a quem lhe partir o coração. Mas tenho a certeza que mesmo estando longe, nunca estarei distante, até porque não ia aguentar. Apesar dos tempos de glória em que incendiávamos sofás e lutávamos com ovos já terem passado, preciso e irei sempre precisar muito dela. A minha irmã pode até ser mais nova do que eu, mas é quase sempre mais sensata, e sei que tenho tanto para aprender, como ainda gostava de lhe ensinar. Entretanto agradeço por ter partilhado a minha infância com uma pessoa tão especial, uma criatura rara, no fundo, um bicho das estevas que fugiu do seu habit natural. Obrigada pais, livraram-me de boa, podia ter-me calhado uma coisa assim ao estilo do Loki e do Thor, ou pior, imaginem que o Eça de Queirós era metido ao barulho e acabávamos numa versão de baixo orçamento da Guerra dos Tronos. Seria terrível, não só pela carga de trabalhos que teríamos a arranjar dragões, como pelo tamanho excessivo da conta da eletricidade, isto do inverno tem piada mas sai caro. Talvez a EDP fosse boazinha para variar e fizesse uma promoção especial para famílias destruturadas com anões. No pior dos cenários fazíamo-nos a estrada em digressão, que cá em Portugal o negócio dos Jonas Brothers , ou dos Jackson 5 se forem de outra geração, ainda não está muito explorado. Pensando bem, nem é má ideia, vou falar com a minha irmã e se ela aceitar ligo hoje mesmo aos Carreira para pedir informações. Já consigo ouvir: E hoje a cantar/não posso esquecer/aquele sofá/que eu fiz arder/tão bom recordar/aquele cantinho/agora queimadinho. Se até Maria Leal conseguiu, não vejo nenhuma forma disto correr mal, aguardem pacientemente caros leitores, as Tojinhas ainda vão dar muito que falar, espero é que não seja pelos piores motivos.

 
 
 

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